Baixa dos Sapateiros abre ala para 150 ambulantes

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Salvador

17 de maio de 2016 às 09h34

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Imagine dona Zezilda, no alto dos seus 80 anos, correndo desesperada para fugir da fiscalização. “Lá vem o rapa!”, costumam gritar os ambulantes quando os agentes da prefeitura chegam. Dona Zezilda,  com seu corpo frágil e tanta mercadoria para carregar, quase sempre tinha o material apreendido. Agora, enfim, pode ficar despreocupada.

Zezilda Floriano dos Santos está entre os 150 comerciantes agraciados com um espaço no novo camelódromo da Baixa dos Sapateiros, inaugurado ontem à tarde. Com investimento de R$ 420 mil, a estrutura de 600 metros quadrados tem cobertura total, iluminação, sanitários para pessoas com deficiência e até climatização por vaporizadores.

Com a estrutura, Zezilda, de uma vez por todas, dá adeus à vida sobre a calçada da Baixa dos Sapateiros, onde vende confecções há 48 anos. Na maior parte do tempo, montava barraca na esquina com a Rua 28 de Setembro. “Vivi tempos difíceis aqui. Enfrentei muita chuva, muita lama, muita mercadoria perdida correndo do rapa”, lembrou.

“As prefeituras foram jogando a gente para lá e para cá, mas eu nunca desisti”, garantiu a ambulante, que se especializou em roupas para idosos. “Tenho anáguas, vestidos, hobbies e até calçola”, propagandeou.

O camelódromo foi construído sob coordenação da Secretaria Municipal da Ordem Pública (Semop), que também fez o recadastramento e relocação dos ambulantes que atuavam no local e entorno. Todos receberão equipamentos padronizados.

“Nosso histórico é de tensão entre o poder público e o comércio informal. Essa relação sempre foi muito conflituosa. Encontramos uma fórmula de harmonizar os interesses. E essa fórmula tem um elemento fundamental: o diálogo”, afirmou a titular da Semop, Rosemma Maluf, que em três anos no cargo diz ter feito amizade com vários camelôs.

Vagas
A estrutura fica ao lado das Casas Bahia e já é considerado o melhor camelódromo da cidade. “Você não encontra um lugar como esse, com uma estrutura dessa, em lugar nenhum de Salvador. Inclusive, repare que cada camelô tem direito a duas estruturas, cada uma com 2,10 m x 1,60 m. A tradição desse lugar é trabalhar com confecção. E confecção precisa de espaço”, citou Valmir Sales Fonseca, presidente da Associação de Vendedores Ambulantes e Feirantes de Salvador (Assidvam).

Das 150 estruturas, ainda restam 35 vagas para camelôs que se interessarem. Como critérios de seleção, é preciso ter o Documento de Arrecadação Municipal (Dam) e o protocolo de entrada na Semop. “Aí tem o último critério: a proximidade. Quem trabalha mais perto na região tem prioridade”, apontou Valmir. O chamado dos candidatos será feito nas próximas semanas. “Temos uma fila de cadastrados e ela será respeitada”, explicou Rosemma.

Mercado de São Miguel
O ordenamento do comércio informal está entre os passos para fortalecer o comércio da Baixa dos Sapateiros, que no passado viveu tempos de bonança. Ontem, o prefeito ACM Neto anunciou mais uma ação: a revitalização do histórico Mercado de São Miguel. Sem dar detalhes do projeto, Neto disse que a ideia é fazer com que o São Miguel seja, além de tudo, uma referência para o turismo, como é o Mercado Modelo.

Na inauguração do camelódromo, o prefeito anunciou outras obras de ordenamento (veja ao lado) e criticou quem sugeriu que sua gestão seria marcada pela arbitrariedade do “rapa”. “Lembro dos boatos e mentiras espalhados entre os ambulantes. Disseram que nós iríamos oprimir, agredir, trazer o rapa de volta. Ao contrário, respeitamos muito os ambulantes”, afirmou Neto. Enquanto isso, dona Zezilda agradecia por poder trabalhar em paz. “Trabalhar é o meu forte. Se eu não trabalhar, eu morro”, concluiu.

Prefeitura promete sete novos camelódromos ainda este ano
Até o final do ano, quem quiser procurar por comerciantes informais em Salvador vai ter lugares específicos para onde ir. Além do camelódromo inaugurado na Baixa dos Sapateiros, serão pelo menos sete novos espaços na cidade até o fim do ano, segundo a secretária Rosemma Maluf, da Semop. A ideia é que os ambulantes tenham novos espaços em Cosme de Farias, Mussurunga, Amaralina, Boca do Rio, Riachuelo, Aquidabã e Fazenda Coutos, nos locais onde, tradicionalmente, já existe ocupação do comércio informal.

“Não podemos retirar o comércio informal sem dar uma alternativa. A população clama por ordenamento, mas estamos falando de mães e pais de família que precisam trabalhar. Por isso, trabalhamos em duas frentes: com os mercados municipais e a construção de camelódromos”, afirmou Rosemma.

Na próxima semana, já será a vez de Cosme de Farias. Lá, o camelódromo ficará no lugar da antiga feira, e irá acomodar cerca de 80 ambulantes. As intervenções no local custaram cerca de R$ 170 mil, em recursos municipais, incluindo pavimentação, iluminação e cobertura. “Eles ficavam no meio da rua, fazendo engarrafamento nas calçadas. Agora, vão ficar embaixo de uma cobertura”, explicou o assessor especial da Semop, Isaque Peixoto. Em até 20 dias, o camelódromo do Aquidabã, onde devem ficar 30 ambulantes, também será inaugurado. O investimento será de R$ 70 mil no local.

Foto: Reprodução/Correio24h/Almiro Lopes

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