Os cinco principais desafios do futuro presidente da França

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Mundo

08 de maio de 2017 às 12h56

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O presidente eleito da França, Emmanuel Macron, em Châtellerault, em 28 de abril de 2017 - AFP/Arquivos

O futuro presidente francês, Emmanuel Macron, terá de unir um país profundamente dividido e com grandes desafios pela frente: da luta contra o desemprego, passando pelo terrorismo, até a refundação de uma União Europeia em crise.

O principal e mais imediato deles será obter uma maioria nas eleições legislativas de 11 e 18 de junho que o deixe com as mãos livres para reformar, segundo o presidente da consultoria CAP (Conselhos, Análises e Perspectivas), Stéphane Rozès.

Reduzir as fraturas. O centrista pró-União Europeia de 39 anos herda um país dividido. No primeiro turno, em 23 de abril passado, metade do eleitorado votou nos extremos: contra a Europa, contra a globalização e contra as “elites”. A análise dos votos mostra ainda uma outra divisão: a França das zonas urbanas (mais privilegiadas e de tendência reformista) e a das áreas periféricas – em sua maioria, favorável à extrema direita.

Eleito com algo entre 65,5% e 66,1% dos votos, segundo as primeiras estimativas, Emmanuel Macron sabe que muitos votaram nele apenas para bloquear o avanço da extrema direita. Esse voto útil — “por eliminação”, e não por “convicção” — não está garantido para as legislativas de junho.

Stéphane Rozès avalia que a brecha entre Macron e Marine Le Pen, uma “brecha de identidade, nacional, existencial, e não uma brecha habitual entre esquerda e direita” pode “perdurar nas legislativas”.

Maioria inalcançável? Emmanuel Macron promete ir além dos partidos tradicionais — da direita e da esquerda — para criar uma nova maioria de centro nas legislativas de junho.

Autointitulando-se símbolo da renovação política, ele terá de converter seu resultado presidencial em cadeiras no Parlamento para seu partido Em Marcha!, criado em abril de 2016. Macron parece estar convencido de que os franceses voltarão a confiar nele, graças à dinâmica da vitória presidencial.

A direita espera, contudo, levantar a cabeça e se recuperar do estrondoso fracasso de seu candidato François Fillon no primeiro turno (com 20% dos votos) e impor uma coabitação a Macron. O Partido Socialista (PS) sai bastante desgastado dessa eleição, enquanto a esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon se viu reforçada, após os 19,6% obtidos em abril.

Desemprego. Assim como aconteceu com seus predecessores, o novo presidente será julgado em função do quanto conseguirá reduzir o desemprego. Esse índice chega a 10% na França, contra 3,9% na Alemanha, e 8% em média na UE.

“Somos o último grande país da UE que não conseguiu resolver o desemprego em massa”, ressalta o presidente eleito. Macron quer reformar o mercado de trabalho, inclusive a golpe de decreto. Este modo de proceder permite adotar um texto sem debate parlamentar, mas pode deflagrar uma nova onda de protestos nas ruas.

O futuro presidente aposta que conseguirá reduzir o desemprego para até 7% ao final de seu mandato de cinco anos com medidas liberais, cortando a carga tributária sobre as empresas e favorecendo os acordos internos nas companhias para flexibilizar a jornada semanal de 35 horas.

Terrorismo. O atentado da avenida Champs-Élysées no dia 20 de abril, em Paris, fez a ameaça extremista ressurgir durante a campanha. Desde janeiro de 2015, os ataques cometidos em nome do grupo Estado Islâmico (EI) deixaram 239 mortos na França.

“O Daesh [acrônimo do EI em árabe] não esconde sua vontade de explodir a coesão nacional, exacerbando as tensões entre os muçulmanos e o restante da população”, destaca o especialista em Segurança Marc Hecker, do prestigioso Institut Français des Relations Internationales (Ifri).

O grupo EI perde terreno na Síria e no Iraque, mas “a ameaça terrorista continuará sendo alta nos próximos anos”, antecipa Hecker, referindo-se ao possível retorno dos franceses que aderiram à “Jihad” nesses dois países. Pelo menos 700 adultos e 450 crianças continuam lá.

Macron também terá de assumir o papel de comandante em chefe das Forças Armadas.

Os militares franceses permanecerão estacionados no Sahel e no Oriente Médio, como tem sido até agora, segundo o general Jean-Paul Palomeros, que assessora o presidente recém-eleito. Além disso, Macron quer reforçar as fronteiras externas da UE e defende um aumento em massa dos efetivos da agência Frontex, passando de mil para cinco mil homens, assim como “desenvolver a defesa da Europa”.

Refundar a Europa. Emmanuel Macron promete reforçar o motor franco-alemão, que considera uma condição necessária para dar um impulso à UE. O bloco se encontra bastante enfraquecido pelo Brexit e pela crise dos refugiados. Nesse sentido, pretende viajar “para as capitais europeias” para propor um roteiro de cinco anos, que possa “dotar a zona euro de um orçamento de verdade e para ter uma verdadeira Europa de 27, no âmbito do meio ambiente, da indústria e da gestão da migração”.

“Reformar a UE parece muito bonito na teoria, e as ideias de Macron são audaciosas: quer um orçamento e um ministro para a zona euro. Mas é realista, levando-se em conta que isso exigiria mudar os tratados?”, questiona o analista Vincenzo Scarpetta, do “think tank” Open Europe.

AFP

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