Zulu Araújo: 'Anchieta: racismo não é brincadeira'

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11 de junho de 2017 às 06h56

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O deplorável episódio ocorrido no Colégio Anchieta, quando da realização de uma atividade escolar - um grupo de estudantes resolveu se fantasiar de membros da Ku Klux Klan (grupo racista norte americano que propaga a supremacia branca e já assassinou milhares negros) para expressar sua criatividade, revela de forma dolorosa o quanto o processo educacional na Bahia está contaminado pelo conservadorismo.

A condescendência com que a Nota Pública da Direção do Colégio tratou o assunto - "vez por outra, eles podem se equivocar no agir e no pensar" é outro sinal do quanto o racismo está impregnado em nossa sociedade e o que é mais grave no setor educacional.

 

 

Que um grupo de garotos “mal informados” tivessem realizado a “brincadeira” como uma mera imitação daquilo que veem na televisão, seria até compreensível. Mas, o que vimos foi uma sucessão de confirmações para a consumação do ato racista, dentro do ambiente escolar. Senão vejamos:

1) O evento ocorreu num espaço educacional, imagino, portanto, que a atividade tinha ou deveria ter a supervisão da instituição, fosse por meio dos seus professores ou dos seus dirigentes.

2) Os estudantes chegaram na Escola, acompanhados por seus pais que provavelmente acompanharam em suas casas a confecção e vestimenta da “fantasia”.

3) Os estudantes participaram da atividade integralmente ou seja durante todo o dia. Pergunto: Nenhum professor ou dirigente do Colégio viu ou considerou inapropriada a “fantasia” ?

4) Importante: Estes estudantes são do ´3° ano, portanto adolescentes na faixa de 16 a 18 anos, prestes a entrar na universidade. Além do mais, estudam num colégio qualificado e considerado um dos mais eficazes na aprovação do vestibular.

5) A  pergunta que não quer calar: Esses jovens, seus pais e professores, não conheciam, nem sabiam o significado da organização racista Ku Klux Klan ?

Neste sentido, temos algumas lições a tirar desse nefasto episódio:

·         A primeira delas é a irresponsabilidade com que o Colégio Anchieta vem tratando de questão tão séria quanto o Racismo na formação dos seus estudantes.

·          A segunda é o “meio ambiente” no qual esses estudantes estão imersos, que não achou nada demais verem seus filhos, amigos ou parentes “fantasiados” de racistas.

·         A terceira é a naturalização/internalização do racismo em nossa sociedade, a ponto de permitir que numa cidade em que mais de 85% de sua população é de origem negra fatos como estes ocorram, como se fossem normais.

Por fim, considero fundamental, não apenas uma Nota de Esclarecimento insossa que não aponta para a gravidade do fato, como fez o Anchieta.

É urgente, não apenas no Colégio Anchieta, mas nas Redes Públicas e Privadas de Ensino do Estado da Bahia, a execução imediata da Lei 10.639, que introduziu o Ensino da História e da Cultura Afro Brasileira, na grade curricular do Ensino Fundamental para, exatamente, esclarecer, informar e impedir, que a discriminação e o racismo, que vitimam milhões de pessoas no Brasil e no mundo, continue sendo propagado.

Toca a zabumba que a terra é nossa!  

*Zulu Araújo é Mestrando em Cultura e Desenvolvimento

(AF) 

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