Sem Ford, indústria baiana desaba 20,9%

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Economia

09 de abril de 2021 às 12h54

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Sem Ford, indústria baiana desaba 20,9%

A economia baiana já começa a sentir os efeitos do fechamento da fábrica da Ford no Polo Industrial de Camaçari. Com o fim das atividades da montadora e o agravamento da pandemia de covid-19, a produção industrial do estado amargou, em fevereiro, uma queda de 20,9% em relação a igual mês do ano passado. Foi o pior resultado do país e, também, o pior fevereiro para o setor desde 2015, de acordo com pesquisa divulgada nesta quinta-feira, 08, pelo IBGE. Na comparação com o mês imediatamente anterior (janeiro), a indústria sofreu um recuo de 5,8%. Com o resultado de fevereiro, a indústria da Bahia acumula uma retração de 18% no ano - a maior do país.  O desempenho nacional está positivo nesse indicador (1,3%). Nos 12 meses encerrados em fevereiro, a indústria local teve queda de 9,4%, mostrando o segundo pior resultado dentre os locais pesquisados, acima apenas do Espírito Santo (-14,1%).

O levantamento do IBGE mostra que, em fevereiro deste ano em relação a fevereiro de 2020, houve retrações em 7 das 11 atividades da indústria de transformação, com destaques  para a fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (queda de 97,1%) e a fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-23,2%). Em sentido contrário, houve alta na fabricação de outros produtos químicos (12,2%) e de celulose, papel e produtos de papel (5,1%). A maior taxa positiva ficou, novamente, com a fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (23,4%), porém esta atividade possui um peso menor na indústria do estado.

Repercussão 
Para  Ricardo Kawabe,  gerente de estudos técnicos da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), o resultado do setor já era esperado. “A Ford era a quinta maior empresa da Bahia em termos de PIB industrial e ela não reduziu a sua produção, simplesmente parou. Nos números, é como se ela tivesse sumido de uma hora para outra e isso afeta o cálculo do agregado industrial. O setor automobilístico foi excluído da nossa matriz”, diz o especialista, que aposta em um ano de resultados negatívos na industria  baiana por esse motivo.   

“Sem contar nos milhares de empregos diretos e indiretos que desapareceram. São pessoas que deixaram de ter renda garantida, carteira assinada e plano de saúde. Isso traduz em menos consumo e impacto nas cidades, principalmente a de Camaçari. Reduz a demanda por serviços mais qualificados e a quantidade de impostos pagos para o governo”, explica.  

Ricardo Kawabe defende que haja uma melhora no ambiente de negócios do país, para diminuir o chamado Custo Brasil, termo usado para se referir às dificuldades que atrapalham o crescimento da produção industrial no país.

 “A Fieb e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) batem na tecla de que é preciso criar estratégias para não dificultar a vida do empreendedor. Nós recomendamos a realização de reformas estruturais que reduzam as barreiras criadas no nosso país e que só geram aumento do desemprego e informalidade A gente tem que simplificas a vida do empreendedor”, acrescenta. 

Em nota, a Fieb afirmou que, no acumulado de 2021, a indústria de transformação baiana registra os piores resultados de produção física do país devido o encerramento da produção de veículos. “Isso pode comprometer os resultados do agregado por todo o ano. Adicionalmente, o país tem registrado números ainda mais preocupantes referentes à pandemia de covid-19, provocando restrições nas atividades do setor de comércio e serviços, bem como na movimentação das pessoas, o que obviamente gera efeito negativo à produção industrial”, alerta entidade.  Para a Fieb, a recuperação econômica esperada para 2021 depende do controle da pandemia (vacinação da população) e de simultânea agenda de reformas no Congresso. Vice-governador da Bahia e secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia (SDE), João Leão, afirmou que a decisão da montadora foi motivada por questões estratégicas da empresa e de uma reformulação pela qual vem passando o setor automotivo mundial.

“[As decisões] nada tiveram a ver com a Bahia, nem com o apoio do governo do estado. A Ford estava muito satisfeita com a qualidade e desempenho de suas operações na Bahia”, disse. 

A Ford não quis se manifestar sobre o assunto. A Superintendência De Estudos Econômicos e Sociais (SEI) e o Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari também foram questionados sobre o assunto, mas não responderam até o fechamento do texto.

Encerramento 
Pegando todo mundo de surpresa, há quase três meses, no dia 11 de janeiro, a Ford anunciou o fechamento das fábricas que têm no Brasil, incluindo a de Camaçari. Na ocasião, a empresa afirmou que irá trabalhar em colaboração com os sindicatos para "minimizar os impactos do encerramento da produção".

“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”, afirmou Jim Farley, presidente e CEO da Ford. “Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global", disse o comunicado da empresa emitido na época.  

Com a decisão, os veículos comercializados no mercado brasileiro passaram a ser importados, em sua maioria vindo das unidades de Argentina e Uruguai, além de outras regiões fora da América do Sul. 

 

Fonte: Correio 24 horas

MC

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