Banco Central e Fazenda se unem contra uso das reservas

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Economia

15 de janeiro de 2016 às 07h09

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A insistência do PT para o governo utilizar os US$ 370 bilhões que o país guarda nas reservas internacionais para ações que estimulem o crescimento levou o Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC) a alinharem o discurso para combater a ideia, considerada inadequada pelos dois principais times da equipe econômica. Na avaliação de fontes ouvidas pelo GLOBO, em meio a turbulências internacionais e uma grave crise de credibilidade, o Brasil não pode abrir mão deste “seguro” para pagar despesas correntes, amortizar a dívida pública brasileira ou até financiar projetos de infraestrutura.

O apego às reservas internacionais é tão grande que elas não foram usadas nem mesmo onde poderiam ser: para interferir no câmbio e conter a escalada da moeda americana. Não deve ser diferente agora, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO.

Outros países já tiveram a ideia de usar suas reservas internacionais para fechar as contas. Argentina e Venezuela são exemplos disso. Aqui, a cada solavanco da economia, surgem novas possíveis utilidades para esse dinheiro. Agora, ele é visto como um possível catalizador da atividade econômica.

No Banco Central, a proposta é combatida vorazmente. Ao contrário, se possível, o desejo é aumentar ainda mais o volume de dólares guardados.

Desde que o Brasil perdeu a estabilidade fiscal, as reservas têm sido apontadas por investidores e agências de classificação de risco como o ponto de segurança da economia brasileira. A avaliação dentro da equipe econômica é que, no momento em que o BC admitisse se desfazer de reservas internacionais, começaria uma nova rodada de turbulências no mercado.

— Quando o dólar estava subindo, a avaliação era que, se o BC admitisse vender reservas, o mercado vinha para cima, e a gente ia perder uns US$ 100 bilhões em uma ou duas semanas — conta uma fonte.

DIVERGÊNCIA EM MEDIDAS DE ESTÍMULO

Uma outra pessoa da área econômica enfatiza que há uma razão importante para que parte desse dinheiro não seja destinada a outras áreas: as reservas têm de existir em grande quantidade, porque, se houver mais saída de investidor estrangeiro, o país tem de pagar esses dólares. Não devolver o dinheiro de determinado investidor estrangeiro, sinaliza, no mínimo, controle de câmbio. Reservas servem para isso e não para outros fins, argumenta.

— Países como China, Índia e Noruega não usam reservas cambiais para financiar infraestrutura. Usam reservas fiscais, decorrentes dos superávits primários e colocam o que sobra deste dinheiro em fundos soberanos — disse essa fonte.

O Brasil tem um fundo soberano e já usou recursos dele para ajudar as contas públicas no ano passado. Por outro lado, em momentos de crise e falta de dólares para operações de comércio exterior, o BC já ofertou linhas de empréstimos de dólares das reservas internacionais. Nesses casos, a autarquia até lucrou com as transações.

Os defensores da ideia, no entanto, afirmam que o Brasil é um país conservador no uso das reservas internacionais. Argumentam que é possível usar o dinheiro sem que as reservas percam a finalidade de proteger o país de especulação financeira e fuga de recursos.

Fazenda e BC, porém, estão em campos opostos em relação à adoção de outras medidas de estímulo, como as avaliadas pelo time do ministro Nelson Barbosa, que envolvem a ampliação do crédito direcionado oferecido pelos bancos públicos. Como o BC está se preparando para elevar os juros, em resposta à resistente inflação de dois dígitos, alguns integrantes da equipe econômica avaliam que o movimento da Fazenda está “descoordenado”, pois aumentará a circulação de dinheiro na economia, o que é fator inflacionário.

— Todo o problema econômico do país pode ser resumido em falta de coordenação-geral da economia — queixou-se uma alta fonte da equipe econômica.

Na Fazenda, porém, o argumento dominante é que o volume de recursos a ser oferecido ao setor produtivo não será muito grande, a ampliação do crédito é pontual e a segmentos selecionados, e estimulará investimentos. Técnicos lembram ainda que há muita capacidade ociosa na indústria, o que reduz o espaço para repasse de preços.

Porém, para o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, normalmente mais alinhado ao setor desenvolvimentista do governo, aumentar a oferta de crédito no momento em que o BC deve subir os juros, atualmente a 14,25% ao ano, é um contrassenso.

— É pisar no acelerador com o freio de mão puxado — disse ontem o economista, durante conversa com clientes.

Foto: Reprodução/O Globo

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